
“Ama a modesta profissão que aprendeste e contenta-te com ela.”
MARCO AURÉLIO
Emocionei-me ao ver o irmão José Lino segurando um tijolo na segunda que passou. Ele é construtor. Muitas casas já brotaram do nada (saíram do chão cru e se erigiram nos céus de Nova Friburgo), a partir de sua intervenção. Mas, dessa feita, ele não estava construindo para a vida, para habitação, mas para a morte, para o fim...
Quem diria que o jovem que aprendeu a profissão de pedreiro, um dia faria uso de sua profissão para despedir-se de forma digna do pai? Lá atrás, naquele passado em que a carreira profissional despontou, ele jamais poderia imaginar que estaria vivendo este momento. Mas aconteceu. Seu pai, falecido nos seus braços no domingo anterior, baixava a sepultura e tinha o túmulo lacrado com tijolos fornecidos pelo filho construtor.
A imagem recolhida por minha retina no cemitério da pacata Cambiasca, RJ, emocionou-me porque o José Lino, construtor, estava firme, resoluto, cônscio dos últimos acontecimentos, convicto de sua fé e certo de que o pai agora descansava com Deus. José Lino cumpriu com galhardia sua missão e prestou todos os cuidados e despendeu toda a atenção necessária nos últimos meses de vida do pai; já bastante alquebrado pela cruel doença.
Interessante que ele não fez isso por obrigação. Os homens, funcionários públicos, estavam ali para isso. Mas, ele não se olvidou em participar. Força do hábito? Agiu instintivamente? Em parte sim, mas, por tudo o que ele demonstrou nestes últimos meses, muito mais. Quis o desenrolar da vida que ele ali estivesse; como estava; e na expressão que se pode enxergar. O fato é que o construtor virou servente. Apenas ia entregando os tijolos aos funcionários que se apressavam em cumprir sua sina.
Irmão José Lino passou, nestes momentos de despedida do pai, a mensagem de que na vida precisamos estar preparados para o momento derradeiro dos que amamos. Além disso, demonstrou que o que aprendemos será sempre útil nos momentos mais inusitados, e que é preciso dividir com o outro aquilo de bom que vamos recolhendo na estrada da vida. Some-se a isso o fato de que não importa o que somos e o que fazemos, mas precisamos estar sempre prontos para o serviço, para a ajuda, para a contribuição, por pequena que seja, no sentido de fazer funcionar a existência.
Os tijolos nas mãos do irmão José Lino, ali em Cambiasca, ficarão para sempre em minha memória, a ensinar-me que é preciso ajudar: “um ao outro ajudou, e ao seu irmão disse: Esforça-te!” (Is 41.6). Que Deus nos abençoe e nos ensine a sermos cooperadores do seu Reino.
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