
A visão utilitarista, pragmática, hedonista da vida, comportamento este ressaltado pelo individualismo exacerbado de uma sociedade voltada para a satisfação própria, para a busca intensa do prazer a qualquer custo; tem sido extremamente desagregadora e tem contribuído para a coisificação da vida e dos relacionamentos.
Há uma busca insana de ganhos, lucros, de se extrair vantagens pessoais em tudo o que se faz e se envolve, caso contrário, mantém-se alheio ao que acontece ao redor. É o que ficou conhecido no Brasil como a "Lei de Gérson", famoso tri-campeão mundial de futebol que num infeliz comercial de tevê do final da década de 70, usava a seguinte expressão: "Leve vantagem em tudo!"
Se o individualismo proclama a busca da satisfação pessoal como a razão primeira da existência - e nossa sociedade imoral abraçou a idéia com afinco, pois as oportunidades desviantes de caráter são inúmeras nos dias atuais -, por outro lado vemos que as pessoas que levaram esta filosofia de vida às últimas conseqüências, caíram num vazio existencial que levou muitas delas à obtenção e convivência com doenças de profunda correlação psicossomática, tais como: angústia, depressão, ansiedade, stress; marcando várias gerações que recorreram aos divãs psicanalíticos para desafogar suas mágoas, resolver suas relações intra-existenciais e inter-humanas.
O individualismo peca por colocar o indivíduo no lado oposto da vida em sociedade: primeiro o "eu", depois, se sobrar, o "nós". É o que já se tem dito com relação a muitos que procuram a religião e a Deus apenas nos momentos de necessidade: Só quer o "venha a nós", porém, "a vosso Reino, nada!" Esta crença na satisfação pessoal como algo que se tenha que conseguir a qualquer custo, nega a realidade deste mundo, muitas vezes aflitiva, como declarou Jesus (Jo 16.33) e que deve pautar-se por uma vida de humildade e valorização das pequenas coisas que, no somatório da existência, são as que mais contribuem para a satisfação do "ser" (Mt 5.1-12; Fp 2.1-11; Ef 4.1-16).
Podemos concluir este ressaltando que o segredo para ser um vencedor sem ser um individualista inveterado, é buscar o equilíbrio relacional. Como alcançar este equilíbrio? Vejamos algumas sugestões práticas:
1ª) É preciso cumprir o mandamento do "amor ao próximo" - Ninguém que obedeça a este mandamento (cf. Mc 12.28-34), cairá na esparrela degradante de um individualismo que sufoca e que desrespeita os valores mais caros de vida comunitária.
2ª) É preciso reconhecer a dimensão social e comunitária do Evangelho - Como já temos aprendido, ninguém é salvo para o nada, para o vazio. Somos salvos para Deus, para seus propósitos, e o cristão, convicto de sua fé, há de querer cumprir a vontade do Pai (cf. Jo 15.14). Somos salvos, então, para o serviço. Por isso que cada crente deve cantar o velho hino: "No serviço do meu Rei eu sou feliz" com redobrada satisfação e trabalhar para mostrar pelas obras a fé que tem (Tg 2.14-26).
3ª) É preciso seguir o exemplo do Mestre - Nada melhor do que nos espelharmos em Cristo para fugir dos perigos do individualismo. Se há alguém que sempre pensou no outro este alguém foi Jesus. Sua compaixão, sua atenção para com os mais pobres e marginalizados, a dispensação de favores aos desvalidos deste mundo, tudo mostra como Jesus focou seu ministério não em sua satisfação própria, mas no outro. O texto de Filipenses 2.1-11 demonstra esta renúncia de Jesus visando a humanidade. O esvaziamento de suas prerrogativas divinas, fazendo-se homem e servo para resgatar a humanidade, levou Cristo à exaltação. Se quisermos ser bem-sucedidos, o caminho é este: do serviço, da humildade; o oposto do que a sociedade busca (Mt 23.12).
Que Deus abençoe cada um de nós a vivermos de acordo com sua vontade e na medida certa do amor cristão.
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