
Embora o Evangelho no Brasil tenha se desenvolvido muito nas últimas décadas e, com o crescimento, a população evangélica tenha invadido os extratos mais altos da sociedade; isto não pode nos fazer esquecer que milhões de nossos irmãos ainda continuam nas classes "D" e "E" e, como tais, ainda sofrem os percalços de muitas necessidades.
A família cristã pode marcar diferença para os "irmãos de fé", colocando em prática a recomendação de Paulo: "Façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé" (Gl 6.10). Porém, pode e deve, marcar diferença para esta sociedade "corrupta e perversa" em que estamos inseridos (Fp 2.15).
Esta diferença engloba várias circunstâncias que não podemos estar esquecidos delas. Se no passado, o crente alimentou certos estereótipos, dos quais lamentamos hoje; todavia, hoje, precisamos ser responsáveis na construção de uma vida cristã autêntica. Nós mesmos somos os culpados por termos "vendido" a imagem que temos para os de fora. Ou quem será que ensinou aos incrédulos que crente era assim, não fazia isto, não participava daquilo? Etc? Fomos nós mesmos!
Mas, se temos que lutar para abolir certos estereótipos desalentadores, por outro lado, há compromissos dos quais não podemos abrir mão. Melhor seria que o crente fosse identificado pelo que ele faz e não pelo que ele não faz. Não fumar, não beber, não ir a festas rave, punk ou funk, pode ser importante do ponto de vista espiritual e de testemunho, mas não representa verdadeiramente a vida cristã, pois há muitos não-crentes que são melhores do que nós nisto. É preciso marcar diferença pela qualidade de vida: amorosa, dedicada, fiel, piedosa, conselheira, amiga, justa, transparente, ordeira. Os valores positivos que pudermos mostrar serão nossa bandeira neste mundo caótico.
Esta vivência da espiritualidade sadia começa em casa e continua entre os vizinhos. Aqueles que convivem mais de perto conosco são as principais testemunhas do que somos. Já se tem dito que a casa é o melhor lugar para se conhecer uma pessoa, tal como ela é. Em casa tiramos as máscaras; somos o que somos. Nossos filhos são testemunhas oculares de nossos destemperos, omissões, sentimentos e emoções.
A família cristã precisa desenvolver uma qualidade de vida tal que a vizinhança tenha prazer em nos ter ali por perto. Sabe aquele vizinho "chato", perturbador, que todos almejam que ele consiga outro emprego, seja transferido, essas coisas, para mudar da rua? Pois é, este vizinho nunca pode ser um crente. Se existe um crente que se enquadre nesta categoria ele está depondo contra o Evangelho da graça de Cristo e está sendo motivo de impedimento a salvação de vidas. Temos que transformar o mundo e não tomar a forma do mundo (Rm 12.1,2).
Costumamos perguntar aos crentes de nossas igrejas quantas vidas eles já levaram para Deus. Com alegria vemos que muitos têm assumido este compromisso da evangelização e têm encaminhado pessoas para os céus. Mas, e se perguntássemos o contrário: Quantas vidas deixaram de se aproximar de Deus por sua causa? Quantos estão ainda perdidos no mundo por sua culpa? Às vezes isso ocorre por causa da nossa omissão na pregação do Evangelho; mas, muitas vezes, por conta de nosso mau testemunho.
Existe o crente "cri" e o crente "cri-cri". O crente cri é aquele do Salmo 116.10: "Cri, por isto falei!" Este tipo de crente, por ter sido alcançado por Deus e estar satisfeito em sua vida cristã, não se cansa de testemunhar e falar do amor de Deus. Está interessado no outro e em sua condição espiritual. Já o crente "cri-cri", bem esta é uma expressão antiga, do meu tempo, que se refere a uma pessoa criadora de casos, ou, como registra Aurélio em seu famoso Dicionário, "pessoa muito tediosa, chatíssima". Pois há crentes que se comportam dessa maneira e em vez de ajudar outros a irem para os céus, são motivo de impedimento. Lembremo-nos da advertência de Jesus: "Ai do mundo, por causa dos tropeços! Pois é inevitável que venham; mas ai do homem por quem o tropeço vier! (Mt 18.7). O Apóstolo Paulo recomenda a tolerância para com os fracos na fé, mas orienta no sentido de que não venhamos a "pôr tropeço ou escândalo" ao nosso irmão (Rm 14.13).
Que Deus abençoe a nossa Igreja e que as famílias que a constituem possam estar edificadas no Senhor.
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